quinta-feira, 9 de agosto de 2007

JAZZ EM AGOSTO NO FEMININO * Gulbenkian


Última ronda de espectáculos de 9 a 11 de Agosto

São muitas as mulheres que têm um papel preponderante na cena musical contemporânea, dirigem os principais centros de pesquisa em musicologia das universidades europeias e estão integradas em todos os domínios da actualidade musical. Cinco delas sobem aos palcos da Fundação Gulbenkian na 23ª edição do Jazz em Agosto– Claire Daly, Marilyn Crispell, Lauren Newton, Elisabeth Tuchmann e Joëlle Léandre.

Joëlle Léandre é uma das mais reputadas contrabaixistas europeias e vai tocar nesta edição em dois momentos distintos – como membro do Quartet Noir, no dia 10, e a solo, no dia 11. Léandre descreve a relação com o seu instrumento como uma relação diária de estudo e reflexão, um “work in progress” em que o som é explorado como entidade espiritual que é, exprimindo o que o músico quer dizer no momento específico em que toca. Há tantos sons como as moléculas do corpo humano, diz, e há que deixar que eles concretizem o seu trabalho. Por isso, nas suas palavras, improvisar é “tocar a nossa própria música, (…) afirmar, arriscarmo-nos a ser nós próprios. (…) é uma linguagem, uma visão do mundo também, uma arte em si, parte de todos os dias.”

Ao longo do seu percurso, Léandre encontrou-se com Morton Feldman, Earl Brown, John Cage e Giacinto Scelsi. Estes dois últimos foram marcos fundamentais no seu percurso musical e espiritual. Cage ensinou-a, entre outras coisas, a escutar o mundo à sua volta, dizendo-lhe que deixasse o som ser aquilo que é. De Scelsi, a contrabaixista, guardou a forma como reconhecia e compreendia os dois elementos presentes em todos nós – feminino e masculino, força e fragilidade – base da profundidade, verdade e simplicidade da sua música.

Joëlle Léandre, a pianista Marilyn Crispell, e as cantoras Lauren Newton e Elisabeth Tuchmann integram os dois quartetos que melhor equilibram o masculino e o feminino nesta edição do Jazz em Agosto – Quartet Noir e Timbre. Estes dois projectos exploram, precisamente, o som como um organismo vivo que conduz ao conforto de fazer música em grupo a partir da música de cada um.

Desvendar a intervenção da mulher na criação e na vida musical é conhecer o aspecto social e qualitativo da música e perceber que este universo artístico durante muito tempo foi considerado quase exclusivamente masculino e reservou à mulher o papel de musa inspiradora. A música esteve sempre presente na formação artística das mulheres, mas nunca foi encorajada profissionalmente. Na obra Woman as a Musician: An Art-Historical Study (Nova Iorque, 1876) – a primeira sobre a história das mulheres e da sua música –, Fanny Raymond Ritter refere-se ao facto de, na época, os conservatórios e as escolas de música da Europa assegurarem a formação profissional das mulheres, mas não as autorizarem a concorrer a prémios ou a receber diploma. Por outro lado, o mercado de trabalho não lhes dava emprego, tendo mesmo as orquestras sinfónicas da Europa fechado as suas portas às mulheres no final do século XIX. Hoje, o elenco feminino no Jazz em Agosto é sinal da grande revolução do último século.


Para mais informações e o programa detalhado, consulte www.gulbenkian.pt

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